- Sabe o que é?
- Não.
- Na realidade, meu marido não presta. Quase não traz dinheiro, vive enfurnado na saia de alguma sem-vergonha.
- Mas você veio trabalhar ele ou você?
- Eu quero uma solução para mim.
- E o que você tem feito para solucionar? Pediu a separação?
- Não, eu não quero isso. Sabe, os filhos... E na verdade, eu queria que ele voltasse a ser o homem que era, quando começamos.
- E como ele era?
- Ah, bem diferente! Trabalhava muito, era responsável, chegava cedo
- E quando isso mudou? Aconteceu alguma coisa na vida de vocês?
- Não, nada de mais. Tivemos os filhos, primeiro o Carlos, depois a Clarice, e ele foi mudando.
- Aconteceu algum fato marcante? Alguma morte de alguém próximo, uma doença grave, um acidente, uma amante dele ou de você...
- Não, o que é isso! Nós éramos muito felizes, sim! Até o aborto, nós éramos inseparáveis!
- Ahhh....
Esta cliente é um exemplo muito comum em casos de constelação. É muito comum um acontecimento que simboliza o início da desestrutura do relacionamento, como foi o aborto. Não foi o que ela falou que fez chegar a conclusão que o aborto provocou a mudança de comportamento no marido. Em constelação, não existem causas. Os acontecimentos são somente fatos que sinalizam uma tendência. No caso, o aborto sinalizou a tendência que o marido tinha de isolar-se da família. Esta tendência já fazia parte do sistema familiar dele. Fizemos a constelação com a cliente, e muitas outras tendências foram verificadas, a ponto dela perceber que, ao mesmo tempo em que o marido ia se afastando do casamento e perdendo a responsabilidade pela família, ela ia assumindo a responsabilidade e tratando o marido mais como um filho problemático do que um marido. Num casamento, as tendências se completam, e se esta tendência está baseada no sofrer, tanto um quanto outro irão sofrer.
O foco desta cliente estava preso em outro sistema (da família dela) que a fazia também sentir-se mal amada e rejeitada, não importando o que o marido fizesse. Ambos sofriam, e neste contexto, não existe a menor possibilidade de voltar a felicidade.
Um dos pilares do equilíbrio sistêmico que mantém um casamento coeso e de crescimento mútuo é o equilíbrio entre o dar e receber. Tanto o marido, como a mulher, necessitam de dar e receber, em todos os sentidos. Sexual, carinho, responsabilidade, comprometimento, broncas... Quando um dos dois dá, imediatamente quem recebeu se torna devedor, e sente a necessidade de devolver. Esta troca de posições entre dar e receber é saudável e natural. Porém, quando existe uma identificação muito grande com o sistema familiar anterior ao casamento, e este sistema provoca um desvio de foco de um dos parceiros, este recebe, mas não está em condição de devolver. E aí o outro dá mais, e este fica mais e mais devedor. A ruptura do casamento é evidente.
Para quem não conhece a teoria sistêmica, dizer que um parceiro se identifica com o sistema familiar seu, anterior ao casamento, significa que ele se identifica com uma dor, um abandono, uma sensação de exclusão que ele nem fez parte, presencialmente falando. Pode ser uma segunda família que o pai teve, e ele nem soube, ou um primeiro amor que a mãe teve, e acabou de forma abrupta e tempestuosa, sobrando mágoa para todo o lado... Não importa o fato, e isto é importante ficar claro. Os fatos, dentro de uma constelação sistêmica familiar só servem para sinalizar em qual direção o sistema está empurrando a pessoa. Para dentro do relacionamento ou para fora.
Ao identificar, tomar ciência, aceitar plenamente este sistema, o efeito negativo dele perde a força, e possibilita um reencontro muito mais completo entre pessoas que antes não se entendiam, porque, na realidade, não se conheciam. Quando alguém estabelece relacionamento com outro, automaticamente estabelece relacionamento com o sistema familiar do outro. São dois sistemas que se encontram e interagem, e por isso é tão belo o trabalho com constelação, quando percebemos o entendimento e a aceitação mútua, num casamento.
O marido olha para o passado e antepassados da esposa, todas as relações ocorridas e a emoções envolvidas, pessoas excluídas e incluídas, e acolhe tudo como também sendo dele. E a esposa também procede da mesma maneira...
Não são duas pessoas se reconciliando. São dois sistemas se transformando em um, que dará continuidade nos filhos deste casal. Harmonia entre casal significa harmonia entre sistemas.
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