terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Solidão e outras ilusões


O ser humano gosta de pertencer a um grupo. Seja a torcida de futebol, como a do Palmeiras que estava hoje na frente do Parque Antártica comprando ingresso, seja ao grupo do irmãos evangélicos aglomerados na entrada do templo na Av. João Dias. Ser humano tem que ser alguma coisa: yuppie ou hippie, boy ou perifa, intelectual ou “do povão”. Sabe, a novela ta um saco, mas tem gente que vê só pra ter o que falar no dia seguinte. A roubalheira ta solta, mas não dá para deixar o jornal nacional de lado e, ainda por cima, como não falar mal dos picaretas de Brasília?
É, seja qual for a tribo, a gang, o grupo, a facção, o ministério, o time, o departamento, a linhagem, o direcionamento... Eu sou espiritualista, viu! Mas não sou esotérico! Eu sou da linha séria!
A vontade de pertencer a alguma coisa leva o ser humano a justificar o porquê gosta de certos grupos e afasta outros. Pergunta: para quem se deve justificar o gosto? Quem é que está cobrando alguma coisa? Quem está interessado em saber a qual grupo você fez pacto? E para que justificar as razões de ter abandonado tal facção?

Todos querem pertencer, e gostam quando reconhecem que os outros também pertencem ao seu grupo: isto dá segurança, a sensação de que “sou alguém”, que existem outros que também seguem a mesma linha. Esta é a brincadeira que chamam jogo social. As pessoas que sentem que não pertencem, ah, estas se sentem solitárias. Se estão longe ou fora da família, não se dão bem na empresa, não tem amigos, um grupo para fazer seu churrasco ou curtir um final de semana... isto é o fim! Por isso o esforço em saber coisas para poder comentar, freqüentar lugares onde se encontram os mesmos: é o medo da solidão.

Engraçado que conheço um monte de gente que se sente solitário, mesmo participando de grandes grupos, mesmo tendo amizades, pessoas que ligam para elas, tendo coisas em comum. Vi muitas pessoas, principalmente em grupos religiosos, que não estão legal com elas mesmas. Isso não é privilégio de religiões: também em grandes corporações, em pequenas empresas, em todo lugar... Quantas pessoas se relacionam mas... se sentem só? A solução para isso? Bem, a solução é... acostumar-se. E viver o melhor que puder!
Aquela parte interior que diz que falta alguma coisa em nós, e por isso busca nos grupos o complemento, nas amizades, nas linhas religiosas, políticas ou futebolísticas algo em comum, no fundo é uma auto-ilusão, querendo que algo de fora complete um vazio interior que só pode ser preenchido pela auto-aceitação.

Quem se sente só não aceita a companhia de si mesmo. Reclama de si, não vê as qualidades próprias e está sempre desejando aquilo que acha que é melhor nos outros. O solitário não percebe que o outro também é solitário, e apenas disfarça isso de formas diferentes. Ninguém tem a capacidade de preencher o vazio interior. Pensando bem, até este vazio é desprovido de realidade. O que é o pensamento de que falta alguma coisa além de um simples pensamento? Assim como o pensamento de que está sobrando alguma coisa é um simples pensamento também. A única coisa a ser feita com pensamentos, é escolher aqueles que mais nos agradam. Quem pensa que está faltando algo, pode pensar que está em posse deste algo. Quem pensa que é incapaz, pode simplesmente pensar que é capaz. Quem se sente solitário, pode inverter e pensar que é pleno.
Pensamento é simplesmente pensamento: quem é que vai dizer que você está errado?

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